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“A função da forma é a beleza.” Com essa
frase de Oscar Niemeyer, o arquiteto modernista das linhas curvas sobriamente
elegantes, iniciamos o nosso presente artigo, que tem por objetivo explicitar a
forma como o Hinário O Cruzeiro é executado nos Centros autônomos que seguem a
linhagem ritual do Alto Santo, a saber, Centros que não mudaram ou introduziram
qualquer elemento estranho ou modismo ou alteraram detalhes do ritual desde
quando o Mestre era vivo e todos participavam da mesma sessão na mesma sede
(embora que, até entre esses Centros ocorram pequenas variações que serão
analisadas a seguir).
Forma aqui, destaca-se, é o modus operandi de como
um ritual qualquer ganha existência e se perpetua no tempo ao ser continuamente
repetido, e como a forma “ortodoxa” de sua criação constitui-se em referencial
e palavra de ordem e respeito até por aqueles Centros que abandonaram a
constituição primitiva e passaram a incorporar outros elementos nesta forma.
Enfim, é a liturgia. E não se diga que a forma é excludente da essência, do
conteúdo e da verdadeira devoção; claro que, ao se “formalizar” demais, com
rigor excessivo, corre-se o risco de burocratização, engessamento e afastamento
do sagrado, mas no ritual da Doutrina a forma respeitada com o inevitável bom
senso, tem a função de, justamente, nos preparar para o encontro com a
essência, confortando a viagem, eis que estabelecida pelo próprio fundador e
condutor eterno, onde não cabem autoritarismos egóicos nem cultos à própria
personalidade, uma vez que todos vestimos a mesma farda. À pecha de
“formalistas” respondemos com a devida ordem do Mestre: “A minha Doutrina está
pronta, ninguém acrescente um pingo no i, ninguém invente moda”.
Diga-se
também que, não consideramos que os Centros que tiveram nascimento logo após a
passagem do Mestre e cujas lideranças conviveram com ele, alteraram ou
modificaram deliberadamente a forma - objeto deste nosso estudo -, mas podem,
via de tradição oral, não terem tido a devida ciência de tantos detalhes, ou
deles, em determinado momento, podem ter se esquecido, fato normal, repete-se,
quando se trata de tradição oral.
O Mestre Imperador Raimundo Irineu
Serra, dono do Hinário O Cruzeiro, conforme atestam vários
relatos de contemporâneos, era homem sistemático e caprichoso que
fez o máximo possível para estabelecer bem traçada sua Doutrina e deixá-la na
condição de que não sofresse ulteriormente alterações no funcionamento básico
de sua estrutura.
Deste modo, o seu Hinário, podemos dizer, tem
estabelecido um esquema de execução que funciona como um relógio suíço em
termos de precisão e pontualidade; para tudo o Mestre o deixou delimitado e bem
marcado.
De início esclarecemos que a versão do Hinário que praticamos
no CICLUMIG – FLOR DO CÉU é a versão de canto e melodia de Percília Matos da
Silva, comandante geral e zeladora do Hinário, cargos que foram a ela
conferidos pelo Mestre em vida, e que acompanhou a evolução do seu Hinário
desde quando este tinha apenas três hinos. Chamamos esta versão de “versão
arcaica”, uma vez que não é estritamente seguida nem na sede da Madrinha
Peregrina nem nas sedes advindas da dissidência do Sr. Tetéu – em alguns
detalhes melódicos de execução de alguns hinos apenas -, mas que é
profundamente diferente do executado em outras sedes advindas de outras
dissidências. Esta versão encontra-se devidamente digitalizada
e à disposição,
a partir de uma gravação cantada por ela de todo o Cruzeiro, e é o nosso
referencial para estudo e execução.
Segundo instrução dela, a execução
do Cruzeiro completo (com a Confissão) somente é feito nas quatro datas do ano,
a saber: Reis, São João, Virgem da Conceição e Natal. Importante dizer que
nesses dias cantam-se também Vós Sois Baliza, Hinário de Germano Guilherme, na
abertura, e que no Centro da Madrinha canta-se o seu Hinário, A Bandeira, antes
dos “Hinos Novos” do Cruzeiro. Informamos que, no Centro da Madrinha, em
qualquer data do Cruzeiro baila-se o Pisei na Terra Fria e canta-se o mesmo
hino nas sessões de Concentrações.
Sobre a numeração do Cruzeiro ser de
132 hinos, embora achem-se numerados apenas 129, apresentamos uma versão
simplista: os hinos de abertura (2) mais o hino instrumental (Marchinha) fecham
a conta.
Todos os hinos são cantados apenas uma vez, com exceção dos
hinos 33, 38, 56, 95, 112, 116 e 121 que são cantados duas vezes, e dos hinos
2, 3, 17, 25 e 115 que são cantados três vezes.
O hino Marchinha (entre os hinos 126 e
127) é apenas instrumental, sem nenhuma letra, três vezes.
O hino
Oferecimento, 25, é cantado apenas nos Trabalhos de Reis, após o fechamento do
Hinário e não na ordem dele.
Os hinos 07 e 14 são
cantados apenas na Missa de Finados e não compõem a linha de baile.
O
hino Refeição, 05, não compõe a linha de baile, sendo cantado apenas em
almoços, jantares ou confraternizações, com a seguinte variação: antes de comer
“Que hoje neste dia é quem dá o nosso pão”, após comer “Que hoje neste dia foi
quem deu o nosso pão”.
Somente nos hinos 28, 42, 50 e 92 repetem-se as
estrofes após a repetição do terceiro e do quarto versos de cada uma.
Os
hinos de fogos ou foguetes são, no início dos mesmos, os de número 1, 16, 29,
33, 41, 45, 50, 56, 66, 84, 95, 117, 129.
Os hinos onde se dão vivas
são, após os mesmos, os de número 1, 11, 16, 21, 29, 33, 41, 45, 50, 56, 66,
68, 79, 84, 95, 105, 108, 117, 124, 128. Importante dizer que os vivas corretos
são: primeira pessoa – (viva o/a Dono/a da Festa), viva o Divino Pai Eterno,
viva a Rainha da Floresta, viva Jesus Cristo Redentor, viva o Patriarca São
José, viva Todos os Seres Divinos, viva o nosso Chefe Império, viva toda a
Irmandade; segunda pessoa – viva o Santo Cruzeiro, viva o nosso Presidente,
viva o Dono do Hinário (quando não está-se cantando O Cruzeiro), viva o/os/a/as
Aniversariante/s (se for o caso), sem mais nenhum outro.
Os hinos onde
se levanta (hinos de pé) são: 1, 16, 17, 29, 30, 45, 56, 66, 67, 81, 95, 108,
117, 124, 128, 129.
No hino LARANJEIRA, 60, a pessoa que dá o
LARANJEIRA, deve postar-se de pé na frente da mesa, o primeiro refrão é
repetido três vezes e o segundo também é repetido três vezes.
Não se
emenda um hino no outro, a não ser após o solo final desde que haja música.
No hino Mãe Celestial, 09, no bailado a terceira estrofe canta-se “Que me
dê a salvação e me bote em bom lugar". Na Missa canta-se “Que te dê a salvação
e te bote em bom lugar”.
As Diversões reconhecidamente do Mestre são 5,
de Pra pilar a Aurora da Vida.
Com este breve ensaio, esperamos ter sido
úteis para aqueles Centros que queiram seguir o ritual do Cruzeiro conforme o
seu dono assim o deixou. Outras matérias ritualísticas serão abordadas em
futuros artigos, dos quais este primeiro abre a série que será publicada.
Santa Luzia, 13 de dezembro de 2012.
Eduardo Gabrich