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Eu era arrogante. Assim achava que sabia tudo, que era tudo racional, sabe? Que tudo podia ser racionalizado, tudo a ciência dava conta. E diante daquele homem eu me senti pequeno, assim como Agnaldo Moreno. Me senti, de alguma forma, impressionado, impactado. Eu vi um homem com grandeza, sabe? Eu não sabia de onde vinha a grandeza, nem que tipo de grandeza era, mas que ele era superior.


Fui ser funcionário subordinado a um político que era deputado. Tinha sido secretário duas vezes, então era autoridade. E aquilo ali me mostrou uma coisa: que a autoridade era aquele senhor. Ele não era autoridade, mas ficou igual a mim ali diante dele, né? Porque... aí eu entendi, que quando o Agnaldo se referia ao Senhor Mestre Irineu, de uma outra forma, mais humilde, com uma certa veneração pelo Mestre Irineu Serra. Ali ele não era nem secretário, nem deputado, ele era um homem diante dele e ele certamente julgava, avaliava, valorizava como algo muito maior, como sendo um homem muito maior do que os outros.


Eu sabia que ali ele reunia muita gente, que tinha uma grande liderança. Eu antes pensava, não, o que o Agnaldo estava querendo era se beneficiar politicamente de alguma forma, mas naquele momento eu desfiz essa impressão. Acho que aquela veneração era verdadeira e eu sentia a mesma impressão, uma grandeza enorme, tinha algo de divino ali. Não era algo terreno, algo material. Essa impressão eu levei, tô levando para a vida toda e onde chego eu conto, assim dá uma impressão que é muito uma limpeza.


Não me recordo bem, mas eu fui outra vez com Agnaldo em algum lugar, não lembro se foi na casa ou se foi em outro lugar, e uma terceira vez na inauguração do núcleo mecanizado. O núcleo mecanizado, de alguma forma, foi feito para atender à comunidade do Mestre Irineu Serra e de alguma forma eu sentia que o propósito do Agnaldo, ao propor ao governador Jorge Kalume, que pegou isso como sendo uma coisa prioritária, era para homenageá-lo. Ao mesmo tempo que era para servir à comunidade.
No dia da inauguração, deu muita gente e ele estava também presente, com aquela mesma coisa, aquela mesma serenidade. Só a presença dele era capaz de falar. Ele falava pelo próprio silêncio. Tanto é que, no dia que a gente teve lá, eu não me lembro mais de muito dos detalhes. Mas, me lembro que ele falou muito pouco. O Agnaldo falou mais para comentar as coisas da comunidade, mas sempre com o desejo de lhe agradar. Eu fiquei calado o tempo todos e não falei nada. Não conseguia falar com aquele homem de jeito nenhum, não sabia o que dizer. Na época era assim mesmo, todos aqueles políticos, tinham uma enorme veneração a ele. Isso era geral.


O Agnaldo nos contava que o General Guiomard, depois Senador Guiomard, frequentava o Alto Santo. O Agnaldo era um discípulo do Senador Guiomard, ele seguia rigorosamente a ação do Senador Guiomard. Eu vim com três colegas para o Acre na verdade pelas mãos do Senador Guiomard. Ele ficou muito feliz com a presença da gente lá e organizou a vida da gente. O Agnaldo falava que o daime era uma espécie de religião, e que o senhor Mestre Irineu era o chefe espiritual daquele grupo e que toda aquela comunidade devia uma grande obediência a ele, e que era muito respeitado por todas as autoridades.


Todo mundo que vinha para o lado de cá tinha esse ritual, de passar na casa do Mestre Irineu para tomar a bênção, e foram esses os comentários. Ele passava essas informações para a gente, passava essas impressões. Que era uma liderança espiritual grande na região, e toda autoridade que respeitava tinha que ir lá se aconselhar, ou pedir a bênção, como eles falavam. Pedir conselho, se abençoar ou coisas assim, e isso era o normal. E ele sempre que vinha para cá, ou vinha com essa intenção ou vinha fazer outra coisa, passava lá, isso era obrigatório.


Depois eu soube que colocaram o nome dele numa rua. Até, foi bom, porque essa memória tem que ser preservada. E essa rua eu acho, que até um colega meu morava lá, é dali para o lado do Aviário. A rua se chama Mestre Irineu Serra. É assim né? Havia um grande respeito. Senhor Mestre Irineu era uma pessoa admirada. O tipo de respeito que você tem com o governador, com o desembargador, com o ministro. É uma coisa que vem um pouco do poder que as pessoas exercem dentro do contexto da lei, do Estado, de tudo você tem de poder. Você pode até ser respeitado a partir disso, fora daquele lugar. Esse respeito, ele é norma da sociedade. Você tem que respeitar, né? Agora esse respeito era um respeito diferente, não vinha nem da riqueza, porque você respeita às vezes uma personalidade porque ela é rica e tem um poder econômico muito grande, ela é notável por isso. Outros é outro tipo de poder, o poder político, né? Quando você é governador, deputado, é um poder instituído. Mas tem um outro respeito que não é material nem político, digamos assim, jurídico, né? Dentro de um tribunal de justiça você chega com respeito, quer dizer, tem uma forma especial de se reportar, a referência para outras pessoas.

 

No caso do Mestre Irineu, não, porque ele não tinha riqueza, não tinha poder político nenhum, não tinha nenhum poder terreno. Digamos assim, o poder dele era natural.