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O Mestre Irineu então era disciplinador? Era, sim senhora. Agora, ele não tinha o instinto, portanto ele criou um seu discípulo pra disciplinar, o Zé das Neves. Eu digo mesmo de livre e espontânea vontade, se o Mestre Irineu chegasse pra mim e dissesse: “Cuidado na vida, seu José. Que eu vou lhe disciplinar.” Eu botava a mão no queixo e dizia: “O senhor está brincando.” Mas se o Zé das Neves dissesse: “Seu José, cuidado na vida”, eu já tava me ajoelhando aos pés dele, porque sabia que a disciplina vinha.


E como era feita essa disciplina? Dentro do próprio daime mesmo. Então a gente diz que era o Zé das Neves, mas na força quem tava era o presidente, é o chefe quem sabe onde as andorinhas moram, não é? Ele é quem sabia onde as andorinhas moram. Dizia: “Zé das Neves, toma conta aí.” Então todo mundo pensava que era o Zé das Neves que era o autorizado, mas a força vinha dele, que ele era quem sabia dar a força como é que é, o ponto né?


Aconteceu com um cunhado de Leôncio Gomes. Ele andou aprontando umas, pessoalmente, particularmente, e que não estava no ritual dos trabalhos (preceitos), aí, o Zé das Neves pegou e deu um copo de daime, isso eu vi no festejo que fizeram dentro da mata em um bosque, mas de dia, num hinário festejado na floresta. Deu um copo de daime pro Ivone e o Ivone endoidou. Ganhava a mata, cipó dessa grossura ele levava nos peitos, apanhou do cipó mesmo. Depois dele tá bem disciplinado, já a roupa um bocado extraviada, Zé das Neves preparou quatro homens e disse “Quando ele pintar aqui no meio do círculo, pega ele.” Quando ele veio da mata, assim adoidado, parecia um bicho doido dentro da mata, um índio alvoroçado, que bateu no meio do círculo. Aqueles homens agarraram ele e botaram no chão e o Zé das Neves encheu outro copo de daime, que já tava atordoado, tomar outro, e botou na boca dele e fez ele beber á força. E quando ele terminou de beber, disse que podia soltar o homem. Ele levantou-se bonzinho, parecia que nunca tinha tomado daime na vida dele. Isto eu vi com esses dois olhos que a terra há de comer.